“Um famoso explorador disse-me uma vez: o extraordinário está naquilo que fazemos, não em quem somos” - Lara Croft.
Um dos maiores reboots de todos os tempos completa, em 5 de março de 2023, dez anos de existência. A jornada épica, inovadora, revolucionária, renovou definitivamente a franquia e reafirmou a grandeza da maior arqueóloga dos videogames.
Em uma tarefa árdua e delicada, Crystal Dynamics, trabalhou com uma equipe totalmente nova e definia o jogo como o de suas vidas na época, pois muitas coisas dependiam do seu sucesso. Vendida a Square Enix, Tomb Raider por um grande período de produção, entre de Underworld (2008) até o anuncio na E3 de 2011, no qual ocorreria o anuncio do mais novo projeto da franquia, que não se tratava de uma sequência, mas de uma repaginação completa (reboot).
É evidente, na época, por anular todos os títulos anteriores, recomeçando totalmente do zero, a mídia e o público ficaram apreensivos com o desfecho do jogo, o que aumentava ainda mais a pressão entre todos os envolvidos, seja atores, produtores, diretores – literalmente tudo estava em risco! Felizmente, tudo deu certo e Tomb Raider se tornou um exemplo de reboot, sendo o mais vendido da franquia com 13 milhões de unidades vendidas.
Pensando nesse momento histórico para nós fãs, vamos discutir alguns dos principais pontos da narrativa e o porquê desse título ter uma das melhores narrativas de Tomb Raider.
1- Origem de uma Anti-Heroína.
Ao contrário do que muitos pensam, o elemento de sobrevivência para definir Lara Croft como uma Tomb Raider, não é exclusivo do reboot, sempre esteve presente desde do insuperável Tomb Raider de (1996). Tanto em Legend quanto no clássico de 1996, Lara é vítima de uma acidente de avião, fazendo-a sobreviver, modificando sua vida e aguçando o desejo por aventura. Além disso, na linha do tempo clássica, ainda há mais detalhes desse processo nas comics da Top Cow. A parte mais incrível do Tomb Raider (2013) é justamente você acompanhar a origem da personagem, de modo a viver suas experiências, de modo profundo e cinematográfico nunca antes feito.
2 - Por trás das Câmeras
Após o lançamento de Tomb Raider Underworld, Lara viveria uma jornada macabra em uma ilha amaldiçoada, o jogo teria criaturas assustadoras, Croft teria uma montaria e estaria envolvida com uma criança para proteger. Desde o início, os objetivos estavam claros para Crystal Dynamics: Lara ficaria presa em uma ilha e o jogo focaria em sua sobrevivência. Contudo, os planos não tiveram tanta aprovação para ser um jogo de sequência, até que o estúdio decidiu utilizar algumas ideias de sobrevivência do protótipo Ascention para as aventuras iniciais de Lara como uma origem criando uma nova linha cronológica do zero.
Essa ideia foi apresentada à Square Enix, que se interessou pelo projeto ao visualizar as primeiras artes conceituais. Em seguida, a equipe de desenvolvedores foram a procura por uma atriz que fosse capaz de trazer o lado emocional e jovial da nova Lara Croft, até chegarem à Camilla Luddington. A atriz é conhecida por Grey’s Anatomy e Californication, possuía o sotaque britânico necessário para interpretar a personagem.
Para Camilla, essa nova aventura foi um dos trabalhos mais intensos fisicamente e psicologicamente, além disso ela jamais imaginou que choraria tanto ao ser a Lara, porém era emocionante vê-la no processo de se tornar “Lara Croft”.
De acordo com os diretores de Tomb Raider 2013 o motivo de trazer uma história de origem era trazer algo fresco seguindo a tendência de filmes de heróis “Nós começamos com uma ideia de origem, algo totalmente novo. Muitos jogos não tiveram oportunidade de voltar e contar suas origens, há poucos jogos assim.”
Esta nova história trouxe a primeira escritora feminina líder da franquia, Rhianna Pratchett, uma escritora de videogames inglesa, designer de narrativa e jornalista. Já trabalhou em títulos como Tomb Raider, Rise of the Tomb Raider, Bioshock Infinite, Heavenly Sword, Overlord, Overlord: Dark Legend e Mirror's Edge. De acordo com ela ocorreu uma identificação com a personagem: “Eu me vejo nela, ela lê bastante, está sempre dentro de sua cabeça, foi para uma escola particular e aprendeu arco e flecha”.Ela também diz que seu sonho quando criança era ser egiptóloga e por isso chegou a estudar egiptologia. Ela também sempre foi fan de personagens duronas e cresceu com Exterminador do Futuro. Nas palavras de Rhianna Tomb Raider reboot é sobre se reerguer e que não há bravura sem o medo.
Jason Graves foi o compositor responsável por trazer a nova trilha sonora ao Reboot, de acordo com ele o que mais o atraiu no projeto era o fato da Crystal Dynamics não impor nenhuma condição pré-existente, proporcionando-o uma liberdade criativa para compor o tema principal que agradou o estúdio. Para ele o tema é o coração de toda a composição e precisava trazer o mesmo toque emocional em cenas de ação, cenas em que Lara sente dor e como isso se une aos efeitos sonoros da ilha amaldiçoada. Tudo deveria trabalhar em conjunto para trazer uma Lara relacionável e realista contando uma história de como ela se tornou a heroína que conhecemos. Além disso, Graves criou uma instrumentos originais para dar o tom de misticismo e mistério em Yamatai, que produziu momentos únicos e completamente inseridos ao ambiente.
Para a Crystal Dynamics este jogo seria o trabalho de suas vidas no qual muitas coisas na empresa mudariam e iriam estabelecer os parâmetros para o futuro, de acordo o estúdio eles
4- Narrativa
Tomb Raider (2013) tem um das melhores atmosferas da franquia, isso se dá pelas inúmeras referências que misturam ficção e realidade. A história se passa por um arquipélago fictício japonês, Yamatai, no qual possui origens desde séc. III A.C... Devido ser uma civilização muito antiga e atualmente não há localização concreta, parte dos pesquisadores adotam isso como um mito, apesar de haver algumas evidencias sobre a rainha Himiko, que é a antagonista no jogo.
Já a ambientação mistura o período do Japão feudal, segunda guerra mundial. Tumbas, templos e ruinas, estão por toda parte misturando horror com deslumbrantes paisagens. No jogo, Himiko era a rainha de Yamatai. Seu governo foi próspero, alta produção agrícola e possuía apoio militar dos guardas-trovão, que protegiam a população de qualquer ameaça. Por esse motivo, foi intitulada pela população de “Rainha do Sol”.
Após atingir certa idade, a soberana concedeu o governo de Yamatai a uma de suas súditas, que foi amplamente apoiada pelo povo. Mesmo após sua “morte” o local continuou sendo governado somente por mulheres, criando uma tradição, na qual, após atingir certa idade, a atual rainha deveria abdicar do trono à súdita escolhida.
Ser escolhida para representar antiga Rainha do Sol era uma honraria cultural. No entanto, Himiko não era tão digna assim, uma vez que essa possuía poderes místicos, sendo capaz de controlar o clima (justificando a prosperidade agrícola de Yamatai) e de transferir sua alma para outro corpo. Ou seja, ela continuou governando Yamatai por séculos, apenas mudando de corpo, não transferindo seus poderes, portanto, ninguém além do general ou guardas tempestade conhecia a verdadeira natureza da "sucessão". O general tinha a tarefa de escoltar a sacerdotisa até a Câmara do Sol, no qual a rainha esperava sozinha para realizar o ritual.
Himiko realizara a transferência de alma inúmera vezes, até que Hoshi descobre a verdade por trás do governo da Rainha do Sol e tira a própria vida antes da transferência total de alma. Dessa forma, a alma da soberana ficou presa no corpo de Hoshi, mas os poderes sobrenaturais eram independentes do corpo físico, o que justifica as inúmeras catástrofes ocorridas em Yamatai ao longo dos anos após a sua “morte/prisão” até o ano da chegada de Lara Croft e a tripulação do Endurance.
Outro grande destaque é o Mathias, um personagem bastante importante, pois ele é a outra razão além da Rainha do Sol da destruição de Yamatai. Ele era um cientista americano e foi parar na ilha em 1982, quando seu avião colidiu em águas próximas do “reino perdido”.
Assim como a tripulação do Endurance, Mathias fica preso em Yamatai e, depois de inúmeras tentativas, percebe que não há outro modo de escapar que não seja dar o que a Himiko quer: um novo corpo para possuir. A sanidade mental dele é comprometida a medida em que não consegue escapar, visto que, como vocês já devem saber, que Yamatai não era como um passeio na praia.
Como não conseguia dar conta de todas as reivindicações de Himiko, Mathias funda os Solarii, que irão dedicar a vida para encontrar a garota perfeita para a soberana maligna. O grupo irá operar com violência brutal, uma vez que estavam dispostos a tudo para escapar de Yamatai; assim, aquele que discordava das regras da sociedade era morto ou escravizado.
Menção honrosa para Cavernas Geotérmicas, prisão de escravos e pessoas que eram obrigadas a se tornarem Solarii, um dos lugares mais bizarros da saga. Mathias sabia que após o candidato sobreviver ao local, a sua insanidade mental seria completamente perdida, logo, seria mais fácil de manipulá-lo. Não preciso nem dizer o quanto que ele será uma pedra no caminho de Lara Croft, assim como ela será no caminho dele.
Lara Croft e seus amigos, são apenas mais um grupo de pessoas a sofrem com a maldição da ilha, que além de misturar os elementos citados a cima, faz referência aos clássicos de sobrevivência como Robinson Crusoe, o Naufrago, e a principal de todas The Descent.
Os sobreviventes do Edurance, precisam fazer o possível para se reagrupar e sobreviver as condições hostis. Assim como na vida real, os personagens descreem da possibilidade de Yamatai ser um fato e partem em busca de uma aventura, que seria documentada assim como aquelas séries do Discovery Chanel.
Lara Croft, precisa lidar com toda a quebra de expectativa gerada pelo acaso da sua aventura, sobreviver, entender os fenômenos a sua volta e proteger seus amigos, na tentativa de sobreviver em meio a caos.
Com cenários deslumbrantes e cenas de tirar o folego, Tomb Raider é um título de origem completamente único que fez sua marca na indústria dos vídeos games.
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