Parece que foi ontem, mas já faz 11 anos que o reboot da história aconteceu, e nesse tempo já vimos Lara enfrentar traumas, superar a morte dos pais e amigos, e se fortalecer ao longo do processo. Porém, no anime, parece que isso nunca aconteceu! E, honestamente, estamos cansados de ver a mesma história ser repetida várias vezes. Não falo isso como um hater da origem de Lara Croft, mas sim como alguém que também a ama profundamente.
Então, qual é a bronca?
Na animação, parece que Lara esquece tudo o que viveu. Além disso, a narrativa insiste em intensificar problemas que os fãs já criticaram amplamente, como a relação tóxica com Richard Croft. Lara fala que o ama, mas o roteiro nos leva a odiá-lo por ser irrelevante para a história, enquanto tenta forçá-lo a ser algo importante, sempre nesse ciclo. O excesso de menções a ele, sempre acompanhadas de choro, não comove — só irrita. Não estou dizendo que Lara não pode chorar, mas se o faz o tempo todo, o impacto emocional se perde. Nem tudo precisa ser emocionalmente desgastante.
Por outro lado, visualmente, a animação é impecável. Traz personagens conhecidos, cenas de luta muito bem coreografadas e cheias de “tombraidisses”. Há uma beleza evidente em Lara, nos cenários, e nas atuações. As piadas são ótimas, cheias de sarcasmo e ironia, como a gente gosta. Hayley Atwell, você tem nossos corações, que graça tê-la em nossa franquia.
Falando dos personagens, há outros problemas desagradáveis.
Nada muito complexo, mas desconfortável para quem acompanhou a série ao longo dos anos. Alex e Grim são completamente apagados das memórias do Endurance. No anime, Reyes sequer é mencionada. A conexão com o Tomb Raider de 2013 é repleta furos, tipo a motivação de Roth e Reyes, nem o rancor de Reyes pela relação paternal entre Roth e Lara é mencionado, já que a filha deles é OUTRA personagem nunca antes mencionada. E ainda tem a Sam, essa sim é uma personagem sumida que foi muito importante para Lara, podia ser desenvolvida, mas é presa a um suspense tosco que a faz ficar mais esquecida que se não fosse mencionada.
E as contradições com o reboot não param. A mansão Croft está em ruínas, quando no final de Shadow of the Tomb Raider Lara a reforma. Em outra cena, ela mata um jacaré com facilidade, embora no Tomb Raider de 2013 ela hesitasse até em matar cervos para comer. E a reativação do remorso pela morte de Roth e Richard é completamente desnecessária e uma perda de tempo, já que poderiam explorar outras alternativas. Falando nisso, Amélia foi esquecida no churrasco, né? Enquanto uns personagens recebem muitas menções, outros que deveriam ser citados não recebem nenhuma.
Narrativamente, não a nada que nos prenda de fato, porque são histórias clichês que se repetem. Um antagonista frustrado, uma joia perdida, drama familiar, personagens de suporte não explorados... é... nada de novo, infelizmente. Deixando bem claro, não sendo injusto, entendo que há um novo jogo a caminho, mas poderiam ter explorado a reconstrução de Lara em sua nova persona pós Shadow - que claramente deixa o passado trágico com os pais de lado - com novos mistérios e aquele velho suspense que só Tomb Raider sabe entregar. Então, não há dinossauro ou acrobacias que compense a tortura de acompanhar 8 episódios explorando as mesmas questões já abordadas nos últimos 11 anos.
Veredito final : Nota 4.9
Esse caminho de repetir narrativas e intensificar problemas já enfrentados pela comunidade de Tomb Raider me fez refletir sobre os jogos futuros. Os criadores não parecem ouvir nossos anseios, e me sinto desrespeitado como fã. Espero que, no futuro, Lara Croft supere todos esses traumas e VIVA. Que seja feliz, se arrisque, ame, erre, destrua o mundo e o refaça, como sempre fez – sem nenhum homem à sua sombra, o que hoje em dia, é inaceitável.
Sinto que a franquia sempre tem tudo para acertar, mas parece que alguém comete erros propositalmente ou por incompetência, ou por falta de consultoria. Uma animação linda e com humor ácido não são suficientes para representar Tomb Raider. Falta mistério, enigmas a serem descobertos, reviravoltas, antagonistas interessantes. Dramas repetitivos não são mais bem-vindos, já houve espaço para exploração aspectos emocionais e questões familiares no passado, basta! Tornar Lara humana não significa transformá-la em uma personagem de vidro, traumatizada, que fica remoendo tudo que faz. Isso a torna cansativa e vazia, menos humana, até mesmo quando esse tipo de discurso não tinha espaço como tem hoje.
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